A cortina abre devagar. ouve-se A noturna de Chopin tocando em uma vitrola antiga.
Luz na cama de Casal, onde as gêmeas estão dormindo.
Dizem que a solidão nos fortalece, nos humaniza, nos torna mais próximos da nossa essência.
Adormecidas entre os finos lençóis de seda rosa, duas meninas (gêmeas idênticas) dormem um sono intranqüilo. Lili acorda desnorteada, sem forças para se levantar. Abre os olhos devagar, vira a cabeça para o lado, e levanta-se com um salto, ao notar ao seu lado a irmã que dormia abraçada á uma garrafa de gim.
Assustada, pega a garrafa e a coloca na cadeira inglesa de cetim azul. Sacode á irmã, que pouco corresponde aos seus estímulos, dormindo um sono absolutamente imperturbável. Olhando com mais cuidado, pode reparar com tristeza em suas profundas olheiras, sua magreza, palidez.
Abraça á irmã como á evitar a morte eminente, anunciada. Aperta-a contra o peito com tanta força q essa desperta finalmente quase sem ar. Aos poucos Violet vai recobrando os sentidos, abrindo os olhos devagar
Começa á tremer e a suar frio, sentindo calafrios pelo corpo todo, pede bebida á Lili, que assustada grita por socorro. Ela pega a garrafa, bebe no gargalo como se fosse água, deixando – a perplexa e sem reação, aos poucos a tremedeira passa. Sempre passando as mãos no nariz com gestos rápidos e frenéticos, com medo que alguém descobrisse que seu vicio ia muito além da bebida.
Ela se levanta de um salto, cambaleante, olha para ela pega em suas mãos dizendo..
- Vou colocar um Chopin para você se acalmar, também para amenizar esses gritos. (vai até o aparelho de som e coloca a noturna de Chopin) O que eu preciso agora é de um bom banho gelado, vou encher a banheira. O sol já ia alto lá fora, invadindo seu quarto com um calor insuportável.
Com um salto, Lili pulou da alta cama de ferro dourada, e caiu em pé no macio tapete persa. Antes de dormir tinha tomado remédios para amenizar as dores que sentia no corpo, junto com o vinho, e ainda estava embriagada por essa mistura letal. Abre as cortinas e se senta para o café elegantemente servido em uma mesinha, com uma linda vista para o jardim. Olhando para um ponto indefinido no espaço, ela diz á si mesma:
- Toda a imensidão e beleza dessa casa parecem invadir meu coração com uma força que chega a me sufocar. Não tenho a permissão de fazer parte desse mundo. Desde pequena eu sempre vivi muito só, com o meu mundo interno, tornando - me uma pessoa mais independente... Joga os braços para traz com as mãos juntas e se espreguiça gostosamente. Seu rosto se iluminava quando via Violet
Bastava ela chegar para tornar todo o ambiente mais leve. Muito Além de qualquer entendimento, dogma, onde a lógica quase nunca podia ser aplicada. (não fica claro p/ a platéia se esse amor se concretiza ou ñ,importante p/ as atrizes : sentimentos aprisionados,medo,fascínio,obsessão,desprezo.)
Abraços apertados, palavras sussurradas em seus ouvidos, elogios constantes, seguidos de um olhar triste e solitário.
Violet tinha medo se machucar. Por isso ela foge, rejeita e despreza a irmã, de uma maneira cruel e exagerada. Tudo devidamente reprimido, como é de costume nas boas famílias.
Violet sempre preferiu os livros ás pessoas, achava mais fácil entender os grandes autores
- Com os livros me sinto auto suficiente, não preciso lidar com conflitos, dores, sentimentos meus e dos outros.
Eu sempre preferi ás pessoas,adorava-as com um amor profundo e brutal .Uma força que chegava á sufocar, assustar, claro, invariavelmente sempre acaba sozinha e confusa.
Não entendia que esse excesso era na verdade, uma tentativa de preencher algum vazio esquecido na eternidade do tempo .